Sábado, 31 de março, 2007, muito calor no Morro do Alemão e o clima esquentando a cada minuto. Assim foi todo o evento Circulando, atividade do Núcleo de Comunicação Crítica do Alemão, fruto da parceria entre o Grupo Sócio Cultural Raízes em Movimento e Observatório de Favelas.
Pela manhã a vizinhança foi despertada com a batucada feita pela Escola de Samba Mirim Meninos da Vila Cruzeiro, que trouxeram como boas vindas ao evento a harmonia e energia que tem o samba. Desceram e subiram a ladeira fazendo muito barulho, despertando e convidando a comunidade para mais um dia de muita informação e mostrar que é possível sim se fazer uma comunicação eficaz, com uma identidade local.
Inauguração da Galeria de Graffiti
As atividades que aconteceram ao longo do dia colaboraram para a integração com informação, principal proposta do evento com a comunidade. Entre as casas aglomeradas, marcadas visualmente por uma política de segurança caracterizada pela repressão, inaugurava-se a Galeria a Céu Aberto de Graffiti do Alemão, localizada numa das principais vias de acesso à comunidade e atualmente com cerca de 70 produções de graffiti feitos voluntariamente, através de eventos, visitas ou mesmo em encontros informais de grafiteiros que levam a arte e informação onde ela é ausente.
Foi prazeroso presenciar a comunidade fazendo “Tsuru”, uma técnica de Origami. Diz um mito oriental antigo que a paz é simbolizada se forem feitos a quantia de mil “Tsurus”. Todo trabalho que tiveram os idealizadores do evento foi recompensado pela satisfação de ver as crianças nas oficinas de Pinhole (Fotografia artesanal), jovens tentando construir pufes com garrafas pet e sabendo um pouco mais do valor desse tipo de iniciativa. Enfim, as ações tiveram o envolvimento dos moradores, trazendo à tona uma nova visão de se trabalhar em função do bem comum.
Funk, Hip Hop e Política
Foi um “bombardeio” de informação. A todo tempo era apresentada uma nova atividade, um novo espaço de troca era formado, seja nas oficinas, ou na discussão política realizada no meio da rua promovida pelo Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, ou ainda através das fotografias expostas que abordavam o dia a dia de cada um ali. Sem falar da boa qualidade musical que tivemos, muito som dos anos 80 e 90, funk de raiz com MC Playboy, muito Rap com as batalhas de MC’s e nas rimas improvisadas pelos mesmos, dominando a palavra, sem perder o compasso e o contexto.
Da criança aos mais velhos, podemos afirmar que todos foram atingidos pelo Circulando e sua proposta. Pessoas de todas as idades participaram das oficinas de construção de sabonetes artesanais e velas aromatizantes. Os jovens locais foram protagonistas de um diagnóstico realizado pela organização Bairros do Mundo, que abordavam a relação entre as perspectivas de transformação para sua região.
Comunicação de dentro
A comunidade passou a ter como referência uma nova realidade, uma nova possibilidade de se conseguir alcançar seus objetivos, através do trabalho coletivo e participativo. E é fundamental se manter uma boa comunicação para se atingir tais metas.
O Circulando surge com uma proposta de provar que é possível se pensar comunicação de uma forma mais crítica dentro das favelas, ou seja, mostrar uma outra forma de se viver, seja do trabalhador que desce às cinco da manhã ou do trabalho sócio-cultural desenvolvido pelos grupos locais. Fazer com que a favela seja vista de uma maneira diferenciada que as mídias diárias vêm estereotipando.
Periodicidade
No Circulando, a violência cede espaço para a arte, a tristeza some com os sorrisos das crianças desenhando, o medo se inverte na vontade de transformação dos moradores, enfim, a comunicação tem uma função fundamental para a realização desses fatores. E o Circulando é uma ferramenta disponibilizada para se fazer isso na prática, mostrar para a sociedade que renega as favelas, que lá existem pessoas que almejam um canal para se colocarem ativamente com suas demandas e potencialidades.
A idéia é que a cada dois meses as comunidades do Complexo do Alemão sejam invadidas pelo Circulando, construindo e ampliando a rede de comunicação local, promovendo a participação ativa das pessoas que sofrem com o estereotipo concebido pela mídia e seus discursos.
Acreditamos que o Circulando é um espaço de inverter esse ponto de vista e essa cultura já entranhada na sociedade, a favela faz parte da cidade e é hora de mudar essa visão estigmatizada enfrentada por esses espaços. Portanto, o Raízes em Movimento e o Observatório de Favelas permanecerão Circulando informações por aí.
Instituições presentes: Bairros do Mundo, CEDAPS, Éfeta, Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, SESC – Rio, INIS, Verdejar, Manancial, Movimento Diga Não ao Caveirão, Posto de Saúde local – PSF (Programa de Saúde da Família).
Núcleo de Comunicação Crítica do Alemão
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