quinta-feira, 4 de junho de 2009

Circulando na favela

Disseminar cultura, propor novos olhares, pensar novas formas de comunicação, interagir com a cidade, divertir, entreter, pintar, expor, discutir, pensar, conhecer, reconhecer. As ações do Circulando – diálogo e comunicação na favela não param por aí. Periodicamente, os jovens do Núcleo de Comunicação Crítica do Alemão realizam o evento que culmina com a exposição das produções e articulações desse grupo.

No último dia 30 de maio, na Avenida Central, no Morro do Alemão, uma das 13 favelas que integram o conjunto de favelas do Alemão, foi realizada a sexta edição do Circulando. “Foi o melhor até hoje. A cada Circulando a gente vem avançando na proposta do evento, que é dialogar e acabar com a ideia de gueto. A favela tem que ser entendida como parte da cidade”, comenta Alan Brum, integrante do Núcleo e coordenador do Raízes em Movimento, instituição que apóia - junto com o Observatório de Favelas – a realização do evento.

Além do Raízes e do Observatório, outras instituições também se integraram ao longo dessas seis edições do Circulando. Grupo Verdejar, Fase e Redes da Maré participaram desta sexta edição. Na abertura do evento do dia 30, o fotógrafo e já locutor oficial do Circulando Sadraque Santos chamou a atenção: “um agradecimento aos moradores e comerciantes locais, que são os verdadeiros realizadores do evento”. É por aí. As atividades são todas produzidas pelos integrantes do Núcleo, a grande maioria moradora do Alemão e é com o apoio dos moradores e dos comerciantes que conseguem êxito.

Rogéria de Souza é um desses comerciantes. Para ela, o Circulando tem o papel de fazer a favela interagir com o restante da cidade, de difundir novos olhares, os olhares dos moradores. “Para a mídia a favela é uma e para mim, que sou moradora, é outra”. Se formos tirar pelo número de não-moradores que participam das atividades do evento, esse é um dos objetivos que o Circulando vem alcançando: difundir novos olhares sobre os espaços populares, e mais do que isso, de levar as pessoas para conhecerem in loco as pessoas que vivem nessas localidades. O conhecer, o contato, o diálogo, fazem toda a diferença.

E não aparecem pessoas apenas do Rio de Janeiro. Em edições anteriores, um ônibus de Pelotas, no Rio Grade do Sul, chegou para as atividades. Nesta edição, um grupo de Campos dos Goitacazes, alunos da Universidade do Estado do Norte Fluminense (Uenf) e organizadores do Festival ArtPoiese, apareceram no evento. E participaram, com a banda Diversatividade abrindo as apresentações musicais.

O ponto alto desta edição foi a apresentação da Orquestra Voadora, descendo a ladeira da Avenida Central acompanhada por uma multidão e contagiando os olhares dos moradores, que dançavam de suas janelas, aplaudiam, sorriam. A partir de então, a festa não parou. O que já tinha começado pela manhã, com o mutirão de grafite transformando os muros da Avenida Central em grandes telas, continuou com a exposição de fotografias dos alunos do projeto Memórias do PAC, com os desenhos de Eduardo Marinho, apresentação do grupo de capoeira Martins, malabares, exibições de vídeos, oficinas de pinhole (fotografia artesanal), espaço recreativo infantil e com as bandas de reggae Pangea e Alforria, da rapper Jamille e finalizando, já depois de meia-noite, com a apresentação do grupo de samba PC do Repique, que é também morador do Alemão.

Os moradores aprovam. Rubens Quaresma, que mora há mais de 50 anos no Alemão, apóia com o que pode. “O Circulando é um benefício para a comunidade, temos que colaborar. Normalmente alugo minha laje para festas, mas faço questão de empresta-la para que sejam feitas as oficinas do evento com as crianças. Estou sempre procurando ajudar”, comenta.

Pelos ânimos e sorrisos dos moradores e dos organizadores, não é difícil prever que a sétima edição do Circulando – diálogo e comunicação na favela virá em breve, manchando a cidade do Rio de Janeiro com tintas e cores que realcem o potencial criativo dos moradores do Alemão.
Foto: Rosilene Miliotti

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